domingo, 12 de outubro de 2008

Adoção não é para qualquer um

Durante todo o processo que durou da constatação de nossa infertilidade até a realização do procedimento, uma questão sempre presente foi a da adoção. Embora sempre tentando gerar um filho por nós mesmos, tínhamos o pensamento de que adotar uma criança seria a solução extrema.

Como um mantra, sempre repetíamos: se nada der certo, partimos para a adoção. Era uma espécie de seguro que mantinha nossa esperança acesa; da maneira que fosse, ao final de tudo teríamos nosso filho garantido.

Essa ilusão durou até o dia em que fui ao Juizado buscar informações sobre os procedimentos. Conversei com uma assistente social muito simpática, que logo na primeira frase desmontou, literalmente, nossas pretensões.

Ela disse algo do tipo: "A adoção existe para conseguir uma família para as crianças que não têm uma, e não o contrário, ou seja, para uma família que não tem crianças conseguir uma".

Esta lógica tão cristalina logo me fez perceber o papelão que estava ali desempenhando. Eu fora até lá como quem vai a um supermercado escolher um produto: esse não está bom, aquele ali já passou da idade, não tem um com mais dentes, não?

A assistente ainda esclareceu vários outros pontos. Disse que toda adoção ocorre como última solução, ou seja, quando a convivência da criança com sua família original não é mais possível. Até lá, o Estado envidará todos os esforços para assegurar que os filhos permaneçam com seus pais naturais.

Afirmou, ainda, que infelizmente a maior parte dos pretendentes à adoção vêm com a mesma expectativa nossa: não conseguimos gerar uma criança naturalmente; vamos ao juizado pegar uma. Por tal razão, a preferência é para crianças bem novas, e particularmente do sexo feminino. A espera por crianças nessas condições costuma durar anos.

Saí de lá bastante envergonhado, mas, por outro lado, aliviado: descobri que a adoção não era a nossa praia. Ao menos, não neste momento.

Adotar uma criança é um exercício pleno de amor: é pensar muito mais na criança que será acolhida do que em si mesmo, na sua satisfação de ter um filho.

É se esforçar para proporcionar a alguém uma rotina e um cotidiano decentes, que lhe permitam viver com dignidade e respeito.

É acolher em seu lar alguém que talvez nunca tenha experimentado qualquer tipo de convivência doméstica.

Diria que isso sim é exercitar o amor de forma desinteressada.

Eu sei que minha família seria capaz disto tudo. Mas o que ficou bem claro para mim é que nosso momento é outro: o que queríamos (e continuamos querendo) é um filho.

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